quarta-feira, 25 de março de 2009

Projeto Teórico (parte III)

O DIFERENCIAL NA OBRA DE BOLTANSKI

Segundo Boltanski, que se classifica como sendo um pintor, pintar significa falar com coisas visuais, a questão sobre o tempo é importante, quando você assiste um trecho de um vídeo você pode ficar dois minutos ou duas horas e você pode se mover enquanto isso, um filme tem começo, meio e fim. Quando você olha um filme por outro lado, você senta e assiste do começo ao fim. Em novelas, filmes e músicas, há sempre essa questão do tempo, quando você olha uma imagem estática não há esta progressão (entre comeco, meio e fim).

A instalação do seu trabalho é muitas vezes teatral, no qual a obra atua sobre si mesma, como um evento na qual você se move no tempo, este é seu jeito de criar um senso de suspense e drama familiar ao efeito do cinema enquanto usa uma imagem estática. Quando cria uma imagem, sempre faz o expectador ficar atento de que há um começo e um fim. Por um longo período houveram performances artísticas aonde as pessoas paravam e simplesmente observavam a obra, mas nos últimos dez anos o expectador se tornou uma espécie de ator. Por exemplo, em sua obra The Ordinary Days (1996) havia um pequeno corredor escuro que em seu final havia uma luz muito branca, quase cegante; O corpo do expectador, dessa maneira, ficou portanto envolvido no ato de olhar: olhar para algo se tornou parte do trabalho.

Há algo em seu trabalho em relação ao poder, de ver um grupo de trabalhos acumulados e seu efeito que se torna indispensável - a obra se altera completamente. Também, em razão da iluminação e da teatralidade seu trabalho se torna quase religioso e leva a comparar aquele tipo de espaço como um espaço de devoção.

Boltanski expõe que mesmo não sendo religioso, que nossa primeira relação que temos com a arte é quando vamos a igreja pela primeira vez. Não porque há pinturas lá, mas por causa da presença do padre, de quem as palavras e ações por algum tipo de abstração nos dizem algo de muito importante; você está numa ordem simbólica e no reino do misterioso. O mesmo acontece na pintura.

Boltanski utiliza objetos em suas obras que sabemos que foram usados para algo, mas não sabemos exatamente para que - mostrando assim sua estranheza. Tem a ver com tipo de mitologia individual. Os objetos que ele mostra vêem de sua própria mitologia; a maioria dessas coisas está morta e é impossível de entender. Podem ser coisas insignificantes, ou simples, ou frágeis. Mas pessoas olhando para elas, podem imaginar que um dia foram úteis para algo.

Sua intenção ao usar objetos é de invocar vidas que foram perdidas, e agora se foram. Eles simbolizam a morte de alguém. Parte do seu trabalho tem a ver com a memória recente. A memória ativa é guardada em livros, enquanto a memória recente é sobre as coisas triviais: curiosidades, piadas. Parte de seu trabalho então, tem sido sobre tentar preservar a memória recente, porque quando alguém morre, está memória desaparece. No entanto, essa memória recente é a que faz as pessoas diferentes umas das outras, únicas. Essas memórias são muito frágeis; sua intenção é aparentemente salvá-las.

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