quarta-feira, 25 de março de 2009

Impressões e Projeto Teórico (parte I)

Como a Kátia comentou, foi realmente uma etapa difícil. A questão de conciliar o tempo de todas as integrantes do grupo, de alinhamento, encontros, definição de conceitos, e principalmente, encontrar referência bibliográfica em português. Não há material traduzido sobre ele, apenas alguns artigos na internet. Felizmente conseguimos acesso há um livro maravilhoso "London: Phaidon Press Ltda, 1997 Christian Boltanski", que nos fez ficar mais encantadas com obra de Boltanski.


INTRODUÇÃO

“Numa guerra não se matam milhares de pessoas. Mata-se alguém que adora espaguete, outro que é gay, outro que tem uma namorada. Uma acumulação de pequenas memórias..." (BOLTANSKI, 2001 - online).

O projeto Interdisciplinar baseia-se nas instalações de Christian Boltanski (1944). Desde os anos 60, o artista que se caracteriza como pintor, aborda questões relacionadas à sua vida pessoal (que muitas vezes é reinventada e construída de maneira ficcional), além de questões como a memória, a identidade, a ausência, a cultura do esquecimento, a perda e a morte. Ele questiona que se vamos todos morrer, então, porque tantas guerras (remetendo-se às vitimas do Holocausto ou as identidades anônimas mortas, através dos retratos utilizados em suas obras). Ele se utiliza da negatividade e da religião como veículo para chamar a atenção sobre interessantes questionamentos, e sobre certas crenças, que nos permitem investigar como pensar o presente momento, e a questão de que cada ser é único e individual.

No ano de 1960, surge um grupo de artistas que promovem a primeira exposição sobre o que foi caracterizado como Novo Realismo. Com esse movimento, o sentimento era de conectar o mundo da arte ao mundo real, baseando-se na introdução dos elementos reais nos trabalhos de arte. Ainda que Boltanski não pertença a esse grupo oficialmente, sua obra aborda a questão do lugar dos objetos do cotidiano em suas obras, e a maneira como são ordenados e apresentadas aos olhos do expectador.

Boltanski põe em evidência a construção da nossa experiência à medida que constrói histórias, abrindo um imaginário que varia de acordo com cada interpretação, permitindo que haja um contato físico com o que irão ver. Baseado nessa questão, e visando compreender o momento em que viveu, iremos estudar sua época, e as técnicas que ele utiliza para substituir sua própria experiência através do valor significativo dado à essa nova existência.

Ao desenvolver o projeto vamos estudar sobre a questão de memória trabalhada por Boltanski segundo seu livro (London: Phaidon Press Ltda 1997 - Christian Boltanski), e considerando as informações selecionadas e justapostas utilizadas nas instalações, além da importância da relação arte/vida.


JUSTIFICATIVA

Segundo Ronaldo Entler, quando falamos em memória, não estamos falando de informações que são guardadas intactas, mas fragmentos ou lembranças que são armazenados e recuperados em forma de memória. Nossa capacidade de armazenamento guarda uma memória recente ou ativa, e as mais antigas vão sendo sobrepostas ou vão sendo formadas no que podemos chamar de novas memórias ou mentiras verdadeiras.

Boltanski percebe esse “espaço” e tira proveito daquilo que falta. “Seus trabalhos permitem uma redefinição da noção de realismo: assumem a precariedade da ligação construída com o real, sem negá-la. Convidam a pensar sobre o modo como nosso desejo é especialmente fisgado, não apesar do pouco que a imagem nos oferece, mas exatamente porque ela não oferece tudo. (ENTLER, Ronaldo. on-line).

Christian Boltanski trabalha com o anonimato fotográfico, ele coleta álbuns de família, retratos 3x4 e arquivos que remetem à fotografia. Ele reúne documentos sobre sua suposta morte, retratando um acontecimento que não aconteceu. Ele utiliza desse suporte, de trabalhar com o repertório anônimo, que funcionou no passado como a memória afetiva de alguém. Suas obras misturam memória e imagens, além de apagar as diferenças entre as pessoas (não há como saber se o indivíduo era a vítima ou o herói), ele é um contador de histórias, e se denomina um palhaço ambulante.

“Eu sou um pintor extremamente tradicional. Eu trabalho para proporcionar emoções aos espectadores, como todos os artistas. Eu trabalho para fazer rir ou chorar o mundo...". (BOLTANSKI, 2001 - online).

O principal foco do trabalho é a produção de memória e a cultura do esquecimento, que segundo o próprio Boltanski, se apropria do arquivo alheio e faz uma espécie de intervenção. Com base nesse conceito, iremos elaborar duas animações, que tomam como referência as experimentações e a originalidade que essa abordagem artística nos proporciona através dessas pistas e questionamentos.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOLTANSKI, Christian. Christian Boltanski. London: Phaidon. Press Limited, 1997.

BARTHES, Roland. A Câmara Clara. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

BOLTANSKI, Christian. Artcyclopedia. Disponível em: http://www.artcyclopedia.com/artists/boltanski_christian.html. Acesso em: 18/03/2009.

BOLTANSKI, Christian. Boltanski Website. Disponível em: http://www.christianboltanski.net. Acesso em: 01/03/2009.

SCHRAENEN, Guy. Christian Boltanski: a memória do esquecimento. Disponível em: http://www.serralves.pt/gca/index.php?id=441. Acesso em: 01/03/2009.

CULTURAL, Itaú. Novo Realismo. Disponível em: http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=362. Acesso em: 18/03/2009.

ENTLER, Ronaldo. Entre a memória e o esquecimento: realismo na fotografia contemporânea. http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2005/resumos/R1089-1.pdf. Disponível em: 18/03/2009.

BOPPRÉ, Fernando C. A natureza segunda da morte. Disponível em: http://www.centopeia.net/download/natureza_segunda_da_morte.pdf. Acesso em 10/03/2009.

Por Renata L T Deformes

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